Quando vier a primavera
se eu já estiver morto,
as flores florirão da mesma maneira
e as árvores não serão menos verdes
que na primavera passada.
Sinto uma alegria enorme
ao pensar que a minha morte
não tem importância nenhuma.
Se eu soubesse que amanhã morria
e a primavera era depois de amanhã,
morreria contente,
porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo,
quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo.
E gosto porque assim seria,
mesmo que eu não gostasse.
Por isso se morrer agora,
morro contente,
porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão,
se quiserem.
Se quiserem podem dançar e
cantar a roda dele.
Não tenho preferências para
quando já não poder ter preferências.
O que for, quando for, é o que será o que é.
( Fernando Pessoa )
domingo, 22 de junho de 2008
QUANDO EU PARTIR...
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Um comentário:
Pessoa era um pouco morbido em algumas ocasiões, mas tenho que concordar... que importância pode ter a minha morte?
posso deixar a minha marca, posso ser uma efeméride...
posso até ser lembrado, muitos anos depois, mas a vida como é... será sempre vida... e as flores não perderão certamente a sua cor.
Chorar? Alguns talvez chorem, mas era melhor que sorrissem.
Deveriamos pensar que: "quando nascemos, todos riem e nós choramos; por isso, deveriamos viver de forma a quando morrermos, estejamos a sorrir... não importa se quem cá ficar ri ou chora"
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